segunda-feira, 7 de abril de 2008

Muitos meios de hospedagem, uma só Hospitalidade!


Prezados alunos

Depois de um bom tempo, estamos retomando as postagens. Acima, duas imagens impactantes. A primeira, do Solar Nossa Senhora do Rosário, em Ouro Preto. Não deixe de conferir entrando no site do hotel, e depois, in loco, durante a viagem técnica à Estrada Real.
Já a segunda foto, do Parador Casa da Montanha, da rede de Hotéis Roteiro de Charme, nos convida a mais algumas reflexões.
Relação Hospitalidade x Serviços de Hospitalidade
Transferindo nossos exemplos de Hospitalidae para uma situação da hotelaria, sendo o hotel componente essencial do Turismo, observa-se que, segundo o que aclara Cândido (2000) no Glossário Técnico Gastronômico, Hoteleiro e Turístico, hotel é um estabelecimento comercial destinado (e não, dedicado) à hospedagem de pessoas (hóspedes) em apartamentos (unidades habitacionais) com banheiro privativo, serviços de alimentação e complementares variados, que cobra diária.
Para muito mais, além disto, o hotel pode ser considerado um espaço de hospitalidade, onde se acolhe, com as determinações técnicas profissionais para tanto, oferecendo-se pouso, abrigo, ponto de referência, repouso e restauro, e se propicia contato com as manifestações da cultural da localidade acolhedora, porque não dizer, com a própria população local, estabelecendo com ela um vínculo social, que pode durar horas, dias ou semanas...
Para iniciar este processo de comunicação interpessoal, ao qual também se atribui o nome de hospitalidade, há que se começar a partir de uma dádiva (lembremos, aquilo que é dado), que segundo Caillé (2000) trata-se de “toda a prestação de serviços ou de bens efetuada sem a garantia de retribuição, com o intuito de criar, manter ou reconstruir o vínculo social”.
Então, em toda a vez que dedicamos algo ou alguma coisa a alguém está presente nesse ato uma vontade, por vezes tão implícita que nem mesmo nós a notamos, de estabelecer e melhorar uma relação.
Esses gestos estão grávidos de significados, ou seja, mais importante que a coisa dada é o sentido do dar, revisando o conceito máximo de Mauss.
Esta é uma das maiores contribuições acusadas por Caillé, quando o mesmo declara que mais do que portadora de signo, a dádiva é o signo. Camargo (2004, p. 19), por sua vez, corrobora a noção de Caillé quando diz que a “dádiva desencadeia o processo de hospitalidade, seja ou não precedida de um convite ou de um pedido de ajuda, numa perspectiva de reforço do vínculo social”.
Vê-se, assim, que o turista ao receber o ‘convite’ de visitar uma localidade (marketing dos destinos turísticos - folders, mídia, opinião de amigos) inicia o processo de hospitalidade.
Uma das interfaces da hospitalidade, como citamos anteriormente, é a Hospitabilidade, a qual para Camargo (2004) é a capacidade de ser hospitaleiro, ou ainda, a habilidade de receber e de retribuir.Telfer (in LASHLEY e MORRISON, 2004) diz, por sua vez, que a hospitabilidade é um conjunto de predicados, originais ou desenvolvidos, que quem recebe oferece ao visitante. E essas habilidades, muitas vezes, estão baseadas na necessidade de receber e ser recebido, de ambos. Então, para que fique mais claro, é bom que se estabeleça que a Hospitalidade ocorra sempre nos dois sentidos, do visitante para o visitado, e vice-versa. Para categorizar a Hospitalidade no que se refere ao âmbito e natureza, Camargo (2004) trata de estabelecer três principais dimensões e em quatro tempos distintos.
As dimensões da Hospitalidade podem ser determinadas como Doméstica, Pública e Comercial. Já os tempos podem ser distinguidos em receber, hospedar, alimentar e entreter. Em cada uma dessas dimensões se dão os quatro tempos, com suas características específicas.
O receber, segundo o autor, se caracteriza pelo ato de acolher de forma intencional ou causal; o hospedar se dá com o fornecimento de pouso ou abrigo, proteção e apoio; o alimentar, por sua vez, baseia-se em oferecer abastecimento e restauração das forças e do espírito através do fornecimento de alimento e o entreter, se caracteriza pela troca dinâmica das culturas, pelo tornar agradável o tempo e o espaço, recriando-o.
Hospitalidade Comercial
Camargo concorda com Lashley e Morrison (2004), Chow e Sparrowe (2003) e ainda com Lockwood e Medlik (2003) quando argumenta que, neste caso, possivelmente o ato de receber, de ser hospitaleiro, não esteja associado ao prazer, mas sim a um conjunto de preparações técnicas para ‘vender serviços de hospedagem’.
Esta dimensão trata de conceber a prestação de serviços que atendam às necessidades do visitante, considerando as trocas econômicas resultantes desta relação e está presente na hotelaria ou meios de hospedagem, quando a satisfação das situações de acolhimento, resguardo, restauro e salvaguarda, se encontra sob a responsabilidade de profissionais da área.
O hóspede passa a ser cliente e o anfitrião fornecedor, e sob este aspecto, transitam entre si outros interesses e exigências que haveriam de ser aprofundadas em estudos futuros quando adentrarmos no campo da psicologia do turismo e recursos humanos.
Vale ressaltar, que a noção de ‘Indústria da Hospitalidade’ é defendida por Guerrier (in LASHLEY e MORRISON, 2004) as áreas de hospedagem e alimentação compõem, na Europa e EUA, a chamada “Hospitality Industry”, determinando o esforço profissional de empresas atuantes nestas áreas.
Porém, o mesmo Camargo, admite que muito ainda haja que se evoluir na Hospitalidade Comercial em direção à consolidação da experiência de hospitalidade, no universo concebido por Mauss e Caillé.
Procure analisar as formas da presença da Hospitalidade nos meios de hospedagem e determine os cenários onde ela se dê.
Não esqueça, por favor, de colocar as referências das suas fontes.
Fontes:
CAILLÉ, Alain. Antropologia do Dom. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
CAMARGO, Luiz Octávio de Lima. Hospitalidade. 2. Ed. São Paulo: Aleph, 2004.
LASHLEY, C; MORRISON, A. Em Busca da Hospitalidade. Barueri – SP: Manole, 2004.
LOCKWOOD, A e MEDLIK, S. Turismo e Hospitalidade no século XXI. Barueri, SP: Manole, 2003.
MAUSS, M. Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas. 1974. In : _____. Sociologia e Antropologia. v. II. São Paulo : Edusp
Saudações a todos e a todas

Prof. Therbio Cezar